sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Só tua


Você me julga de tal forma,
só tua,
que  minha poesia não te toca,
para você é surda.
Não consegues ver mais nada,
além de nua,
a não ser sua condenação,
de uma sentença perpétua,
de tal forma eterna
coma a doce lua,
de tal forma divina,
que é desumana,
de tão crua,
qual meu pecado?
como pagar minha pena?
quanto para reaver meu sentido?


4 comentários:

Jane Di Lello disse...

Parabéns poeta,vence quem passa por essa vida feliz e amando!
Você nos passa através de seus poemas e versos este carinho.
BeiJanes no coração.
Jane Di Lello.

flânerie e linguagem disse...

Talvez seja atrevida a minha exegese, mas, vamos lá.
Percebi uma duplicidade de vozes ou polifonia, a voz feminina imiscuindo-se com a masculina. Há um diálogo acerca de uma velada possessividade masculina que vem à tona pela dúvida da mulher, que principia o poema:"Você me julga de tal forma,
só tua(...)" e continua a acusá-lo de seu apego ao significante, ao material,à carne: "que minha poesia não te toca,
para você é surda.
Não consegues ver mais nada,
além de nua (...)" Não só o culpa, como o condena de ser escravo do amor às mulheres e de não se fixar a um ideal feminino, a metáfora da lua representando a mulher, a lua que se renova e tem os seus ciclos. E toda mulher é: "de tal forma divina,
que é desumana,
de tão crua(...)", similitude com a lua. Mas não se trata de uma única mulher, o eu-lírico masculino, diz sua amada, está condenado a sentença perpétua de amar todas elas. Daí o pathos que caracteriza o fluxo da relação entre o eu-masculino e o eu-feminino. Como se tivesse cometido um erro grave à phýsis,após a denúncia de sua amada o eu-lírico masculino indaga: "qual meu pecado?
como pagar minha pena?
quanto para reaver meu sentido?"
Desfecho um tanto trágico, será esse mesmo o destino fatal desse eu- lírico masculino?

(Esse poema é maravilhoso!!!)

Unknown disse...

Como sempre, um belo poema. Andrea

Angie disse...

NÄO SERIA UMA PENA UM TANTO JUSTA?